quinta-feira, 12 de março de 2015

DELHI A CIDADE QUE NUNCA DORME E QUE NÃO DESCANSA!

| 2 Comments
Tive de escrever-te já, a escrita tem mais impacto quando é feita com a alma e com as emoções à flor da pele! E assim estou eu, com as emoções a mil, com apenas duas horas de sono e em estado de jet lag, começo finalmente a cair em mim: "Meu Deus isto é real, eu estou mesmo aqui!! Consegui! Estou na Índia!AHHHH!!! E em simultâneo surge o choque de quem se depara com uma realidade totalmente diferente da nossa.
Escrevo-te de um terraço de um hostel mesmo no centro de Delhi, aqui tenho uma vista privilegiada sobre a cidade! Não consigo descrever numa palavra o que vejo porque há um misto de sensações e experiências concentradas num só espaço e que activam profundamente a maior parte dos nossos sentidos...Se olhar superficialmente a cidade, a primeira palavra que me surge para a caracterizar é pobreza...Contudo, se eu tiver um olhar mais profundo sobre esta intensa vista, a palavra que me surge é vida! Observo crianças descalças com roupas sujas, mas elas não param de brincar, de saltar à corda, de correr...Os sons são muitos e teimam em nunca se calar: as cruzadas conversas das milhares de pessoas que caminham por estas ruas, as vozes imponentes dos comerciantes, as buzinas persistentes de quem conduz num caos onde eles se parecem entender bem. As lojas estão cheias de cores, as bicicletas, carros, e rickshaw's parecem estar sempre em disputa para ver quem chega primeiro e se não estivermos atentos somos passados por cima; pessoas ligadas às agências de turismo abordam-nos de segundos em segundos para vender taxis, estadias, viagens...Nestas alturas é difícil não nos sentirmos assustados, assediados, a confusão é muita e eles persistem em caminhar ao nosso lado e se não somos assertivos ou seguimos caminho eles fazem-nos parar com uma conversa simpática e apelativa. Para quem está de visita isto é assustador e difícil de gerir, mas há que perceber que esta é a forma deles ganharem dinheiro e de sustentarem as suas famílias. E os cheiros? Penso que os cheiros são das primeiras coisas que se fazem sentir, são intensos, são nauseabundos e observei os próprios indianos a taparem o nariz e a boca para se proteger dos nada agradáveis odores.

Há quem muito provavelmente pense em saltar esta parte da Índia devido ao choque cultural e ao susto que podemos sentir quando somos abordados, mas esta parte coloca-nos em contacto com uma realidade que não podemos deixar de ver, quanto mais observamos como o mundo está, quanto mais forte for o murro no estômago, mais sensíveis ficaremos à necessidade de ajudar o próximo, com toda a certeza que quem por aqui passa não fica indiferente (eu gosto de acreditar que não) e é precisamente essa sensibilidade para com o que outro vive que nos torna melhores e mais cooperativos. 

Podia dizer muita coisa, mas as imagens que te deixo expressam essas muitas coisas que quero dizer e que as palavras não podem expressar...Não deixo, de apesar do sentimento de gratidão por esta experiência, de sentir tristeza por não poder calçar todas as crianças que aqui se encontram descalças, de "comprar excursões" a todos os comerciantes que procuram vender e de não dar comida a todos aqueles que sentem fome. Mas acredito que cada vez mais as pessoas estão sensíveis às necessidades dos outros e que como eu, várias pessoas contribuirão para um mundo melhor e mais equilibrado!

Embora te descreva tudo isto e pareça dar-te um ponto menos positivo da cidade, devo confessar-te que estou apaixonada. Muitas pessoas dirão que sou louca, mas isto é o que sinto, embora sem dúvida intimidante, esta cidade é também apaixonante...Vi anoitecer enquanto escrevia e os meus olhos estão vidrados nesta rua, não querem parar de observar todo este movimento. As pessoas aqui não param, sempre activas, sempre a trabalhar, porque certamente será o trabalho que lhes dá algum sustento. Vejo passar "mesas ambulantes" cheias de fruta prontas para quem quiser comer; vejo as vacas no meio das estradas a ser alimentadas com carinho e amor, as motas quase sempre levam três e por vezes quatro pessoas; bicicletas carregadas de mercadoria conduzidas por alguém muito determinado a pedalar, independentemente do peso e do esforço físico...É apaixonante ver tanta vida no meio de um cenário tão cinzento, é apaixonante ver tanta força e empenho onde podia existir revolta. Estou apaixonada e por razões e cenários completamente opostos, considero que tal como Las Vegas, Delhi também poderia ser considerada a cidade que nunca dorme, e em simultâneo a cidade que nunca descansa!

Delhi obrigada por reforçares em mim a ideia de ver o lado bonito e encantador das coisas.
Um novo dia me espera amanhã!












2 comentários:

  1. Querida Rute, obrigada pela tua descrição tão transparente e sincera. Adorei ler-te e "conhecer" Delhi através das tuas palavras tão bonitas :)

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  2. Linda Magy que bom!! Fico feliz que tenha chegado até ti. Espero continuar a trazer-te até à Índia :)
    Abraço <3 <3 <3

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