sábado, 14 de março de 2015

PARA VER ALGO MARCANTE E LINDO, VI MUITA "COISA FEIA" E ANGUSTIANTE!

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Agra é conhecida pela cidade do Taj Mahal, mas na minha opinião ela marca-nos mais não pelo imponente, deslumbrante, lindo e inesquecível templo mas sim pelo cenário brutalmente pobre, não espera...pobreza não define este local, a palavra miséria aproxima-se mais do que vi hoje.



Hoje as minhas palavras não vão ser bonitas. Sim, eu vi o Taj Mahal, eu tive lá, mas como posso eu ficar só com a imagem deste templo na minha cabeça, se vi crianças de cuecas, sem nada mais vestido ou calçado, numa tenda à beira da estrada. Pessoas a tomar banho na rua, as moscas, mosquitos já não parece afectar-lhes, parece sim fazer parte deles e dos seus corpos. Os olhos....os olhos deles parecem-me tão profundos e em simultâneo tão vazios.



E os edifícios? Não sei se posso se quer chamar isso. Impera a cor cinzenta, aliás há ausência de cor, tudo é escuro, inacabado, sem uma dita estrutura difícil de se considerar uma casa. O cheiro que pairava no ar era de esgoto, e acredita, não estou a exagerar. Até porque no meio deste cenário que te descrevo existiam inúmeras vacas, galinhas e este cheiro misturado com o lixo, com os muitos carros que ali passam sobrecarregam a cidade com cheiros verdadeiramente intensos e desagradáveis. Aqui ouve-se o dobro das buzinas que se ouvem em Delhi e vê-se também o dobro da miséria. Visitei Agra a um sábado o que também tornou tudo mais intenso, mas nós temos sempre o que pedimos, eu fui à procura da verdade e o universo ofereceu-ma de forma dura e crua!

Queria falar-te do Taj Mahal e irei fazê-lo, mas não consigo neste momento...agora o meu coração está com a pobreza que não só vi como absorvi, está entranhada no meu ser. Hoje sim, foi o verdadeiro choque, esquece se disse que levei um murro no estômago quando cheguei a Delhi, o murro no estômago, no peito, em todo o corpo foi em Agra. Agra deixou-me perplexa...e atenção não estou arrependida de lá ter ido, teria feito tudo de novo...a minha intenção de vir a Delhi já foi precisamente essa, a de me deparar com uma realidade que não queremos ver, que fugimos de ver e acima de tudo, fugimos de sentir. Porque sentir é tão diferente, estar lá é tão inexplicavelmente assustador, é difícil sentirmo-nos seguros. Mas é preciso ver isto, é preciso encarar isto de frente para não existir o rápido pensamento de "é uma realidade diferente da nossa". É preciso parar para pensarmos que é sim a nossa realidade!!! A realidade do nosso mundo e o nosso mundo é UM SÓ!!!

Apesar de tudo, estou feliz, feliz por ter tido a coragem para visitar esta cidade, mesmo depois de me terem dito para fugir dela. A minha intenção ao vir aqui nunca foi apenas de ver só o paraíso, foi também o de me colocarem em contacto com o inferno da pobreza para fazer crescer ainda mais dentro de mim, a força de criar algo que ajude a melhorar este mundo e as suas discrepâncias, a sua desarmonia. Curiosamente hoje explicaram-me que o Taj Mahal se define como o "the perfect balance", ou seja, o equilíbrio perfeito. Como é possível um templo perfeito construído por amor, aparecer sobre uma cidade onde essa palavra parece tão distante, onde as pessoas parecem ser esquecidas e não ter importância por quem ali passa?! obcecados com a ideia de visitar este templo e de fazer as compras mais baratas da índia, as pessoas parecem meio alienadas do desespero de quem corre na nossa direcção a pedir que possamos ser levados por eles numa espécie de bicicleta. Só pudemos escolher um, e a tristeza de quem ficava para trás, passava para mim também.  Sai do templo directa para Delhi, não quis fazer compras nem pensar em consumismo, nem consegui comer....pelos menos por umas boas horas.

Agra marcaste-me pela solução que é necessária trazer até ti, e não propriamente pelo maravilhoso Taj Mahal, que muito adorei conhecer, mas que por mais imponente que seja não tem para mim a mesma importância que as pessoas, as suas necessidades e o seu bem-estar.

Amanhã, virei com novidades mais leves, hoje precisava falar sobre uma realidade que é de todos nós.
A foto que aqui publico não é minha, porque me pareceu desrespeitoso filmar ou fotografar a fragilidade das pessoas que hoje olhei nos olhos e que os seus tão bonitos olhos ficaram gravados na minha mente e sobretudo na minha alma.


1 comentário:

  1. Inflizmente já passei, passo, por esse choque onde a tristeza envolvente é mais contagiante que a beleza dos locais.
    Que todas essas experincias sejam muito importantes para fortalecer essa tua caminhada de vida tão linda.
    Um dia, não muito distante, quero ser emanado dessa força transformadora como já foste e te levou para esse caminho...
    Beijos carinhosos

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